A primeira sensação, e por isso a melhor e mais eterna, que sinto ao sair do avião em algum sítio longínquo é a recordação de quando em casa, ao preparar a viagem, passei inúmeras vezes com o dedo em cima do mapa mundo a percorrer as distâncias em segundos.
Durante os voos, as equipas de pilotagem costumam mostrar, através de mapas nos ecrãs, a evolução da viagem, mas mesmo assim é a minha memória mental que invoco quando aterro num sítio, saio para fora do avião e apanho a primeira rajada de ar na cara. Aqueles breves cinco segundos de cheiros desconhecidos já me deliciam o suficiente: nesse instante precioso sinto-me tão longe de casa e da minha cidade que um misto de estranheza e satisfação inundam o meu sangue e, a pouco e pouco, bem devagarinho, começo a adaptar-me a uma nova cultura, novas paisagens, novas sensações.
“É verdade, estou aqui em Nova Iorque e estou longe do meu berço, mas afinal qual é o meu berço? É Moçambique? É Lisboa? É a cidade do Porto?”, pergunto mentalmente em silêncio. E respondo da mesma forma: “Não, o meu berço sou eu próprio, não tenho nenhum sítio meu e por isso aceito todos de bom grado. Agora percebo: antes de ser português, sou cidadão do Mundo”.
Claro que tinha de chegar a esta conclusão um dia: afinal nasci em Lisboa, mas podia ter nascido noutro sítio qualquer, Moçambique, Austrália ou mesmo Brasil. Não existia destino nenhum que especificasse onde eu ia nascer, apenas era preciso vir ao mundo.
Uma das coisas que mais me surpreende cada vez que viajo é que sinto a minha nacionalidade portuguesa como uma vantagem. O facto de ser português foi durante muitos anos pouco relevante para mim. Quer dizer, de qualquer das formas, sinto que sou de Portugal, tenho um bocado de sentimento e orgulho lusitano, mas percebo tão bem o que nos distancia das outras civilizações, em termos de mentalidade, ou mesmo as grandes diferenças sociais e económicas, que manifestamente tenho muitas vezes tristeza por estar neste país, por ser este o meu país. Mas depois reconheço que existem outros países muito piores.
Será que esta tristeza (e estas dúvidas já agora) que sinto representa afinal uma das características marcantes dos portugueses? Invariavalmente, estes pensamentos fazem-me questionar (novamente) a minha nacionalidade: talvez eu seja mesmo um lusitano genuíno, porque viajar está no sangue dos portugueses! Mas ser cidadão do Mundo é uma sensação indescrítivel.
Tive a sorte e o privilégio de ter conhecido 17 países em 4 continentes diferentes. Fico sempre radiante ao aterrar num país longínquo que desejo conhecer o mais possível. Tem sido uma experiência sensacional conhecer novas culturas e assimilar na minha vida os ensinamentos recolhidos durante essas viagens. Mas acima de tudo, sei sempre que vou ficar a conhecer novas latitutes e longitudes de mim próprio.
Viajar é o prazer supremo que encontrei na vida. Não existe nenhuma outra actividade que me preencha tão inteiramente. Porquê? Porque o retorno que cada viagem traz à minha vida é incomparável com qualquer outra actividade que possa fazer. Viajar alarga a mente, cria novas relações emocionais, temporais e espaciais e tatua as experiências que vivemos em cada jornada de viagem.
Sobretudo, cada vez que viajo aprendo, aprendo muito, e guardo uma recordação eterna de tudo o que vi, senti, vibrei, conheci e partilhei. Por isso, criar este blog Mundo de Viagens era mais do que um sonho, era uma necessidade.
Acredito há muitos anos que viajar não é uma despesa, mas sim um investimento. Esse é um dos motivos por que queria tanto criar um blog de viagens: para partilhar o máximo possível como viajar faz bem ao corpo, alma e espírito. Da mesma forma que comprar um disco, livro ou filme, cada oportunidade de conhecer outras culturas, hábitos e civilizações serve para saciar uma curiosidade que me impele a descobrir o Mundo. Sei que existem milhões de pessoas como eu, como todos os autores deste blog, cujo prazer de viajar se sobrepõe a todos os outros. Por essa razão, o Blog Mundo de Viagens é dedicado a todos os viajantes! Também por isso partilhamos as nossas fotos e vídeos de viagens para que cada leitor ou leitora consiga rever sítos onde esteve, ou conhecer novos destinos para as suas próximas férias.
A palavra “viajar” provém do Latim VIATICUM cujo significado é ‘jornada’. Originalmente, o termo referia-se às ‘provisões para uma jornada’, sendo que VIA significa ‘caminho’ ou ‘estrada’. Todos sabemos que as viagens moldaram o Mundo, fizeram crescer as sociedades e permitiu conhecer terras distantes e culturas desconhecidas. Mas é engraçado que a sua origem etimológica tenha este significado: para mim faz muito sentido considerar cada viagem uma jornada por si só, mas creio que existe outro sentido curioso nesta expressão.
Sempre me pareceu que após uma viagem ganhei novas provisões mentais para as próximas jornadas da vida quotidiana. Na verdade, parece que viajar promove uma alquimia mental que transforma em reservas mentais as boas recordações das férias. Acredito assim que não só vibramos com uma viagem antes, durante e depois da mesma, como ela incute uma folga mental preciosa para compreender os outros, entender o nosso próprio lugar no Mundo e, sobretudo, enquadrar o bom e o mau do nosso quotidiano numa escala planetária e não limitada à nossa cidade, bairro, aldeia.
O que interessa mesmo é que quando tenho o prazer de viajar posso sentir as diferenças, que começam logo no ar e no cheiro que cada cidade tem, na luz e na arquitectura, nas ruas e nas actividades das pessoas, nas comidas e nas rotinas. Tudo o que vejo interessa-me escrutinar, para comparar, mesmo que falte termo de comparação.
Sim, acredito que somos sempre turistas fora da nossa terra, e creio também que como um mero viajante, só vejo uma pequena parcela de cada novo sítio que visito. E rapidamente vou estar a caminho de casa, ao tal berço, à minha cama e ao meu quarto, à minha vida mundana. Mas a Viagem apenas começa, nunca acaba, antes perdura na minha memória e alma de forma eterna.