Uma vez que tenho um interesse particular por História, especialmente por todos os eventos que se sucederam na Europa e que conduziram ao mundo onde hoje vivemos, percebi que estava na altura de olhar para algumas cidades à volta do mundo e tentar perceber a sua identidade, história e momentos que tornaram certos locais especiais.
Hoje, começo pela cidade de Madrid, a capital de Espanha. Com uma população estimada para 3,3 milhões de pessoas, a capital espanhola assume-se hoje como a terceira maior cidade da Europa. Localizada bem no centro do território Espanhol, próximo do rio Manzanares, a cidade atrai por ano milhares de turistas que vêm munidos com os seus roteiros de viagens e máquinas fotográficas para captar a beleza arquitetónica, visitar museus e passear pelos parques de cidade.
Sem mais delongas, ao longo dos próximos parágrafos refiro alguns dos momentos históricos mais importantes da cidade e que locais preservam essa mesma história.
Embora ocupada desde tempos pré-históricos, a área nas margens do rio Manzanares que hoje conhecemos como Madrid foi durante muito tempo um agregado de povoados pequenos, dispersos e provisórios. As tribos celtas e ibéricas eu se iam desalojando mutuamente foram desalojadas pelos romanos que ocuparam a Península, romanos esses que por sua vez foram desalojados por invasores vândalos (15 séculos antes dos seus sucessores espirituais, os hooligans).
As origens da cidade propriamente dita recuam ao emirado de Córdova, tal como o nome que deriva do árabe Al-Majrit (significa fonte de água). O emit Mohammed I ordenou no século IX a construção de uma estrutura de muralhas e fortificações para proteger o povoado dos sucessivos ataques cristãos. Essa permanente condição de cerco tornou-se, aliás, uma constante histórica.
Em 1085, Afonso VI reconquista Madrid e as poucas construções são arrasadas. A exceção é uma mesquita: o monarca ordena a sua purifiação e o espaço é consagrado à Virgem de Almudena, ainda hoje a santa padroeira da cidade.
Nos séculos seguintes, Madrid mantém um estatuto marginal. O poder municipal é concentrado nas mãos de algumas famílias e a área era usada predominantemente como terreno de caça. É só e 1561 que Filipe II a converte na capital do reino (conta os desejos do pai, que preferia Sevilha). Madrid torna-se uma metrópole de imigrantes, com a população a atingir os 150 mil habitantes. É o siglo de oro espanhol e a capital vai marcando o compasso; a presença permanente da corte atrai muitos nobres – e artistas como Cervantes, Lope de Veja e Velázquez.
Carlos III, da dinastia de Bourbon, chega de Nápoles em 1759 para assumir o trono e queixa-se prontamente da sujidade, da parca iluminação pública, das ruas poeirentas… e da falta de estátuas. É sob o seu reinado que se erguem também alguns dos marcos mais familiares de Madrid, como as portas da cidade, o Palácio Real, o Prado, o Jardim Botânico e a célebre fonte de Cibeles.
Em 1808, as tropas de Murat entram em território espanhol, supostamente apenas de passagem para invadir Portugal, e vão ocupando cidades ao longo do trajeto até à capital. O rei Fernando VII torna-se praticamente prisioneiro de Murat e é forçado a abdicar em favor de Napoleão. A família real é escoltada do palácio a 2 de maio de 1808. Quando o infante Francisco de Paula resiste a um soldado francês que tentava empurra-lo para a carruagem, uma multidão enfurecida ataca espontaneamente as tropas invasoras. A escaramuça dura horas, vitima centenas de pessoas e inicia a Guerra da Independência (o incidente é imortalizado num quadro de Goya.
A Guerra Civil de 1936-39 confirma a propensão da cidade para a resistência, mas também para os cercos penosos. Durante quase dois anos, Madrid é sitiada pelas tropas nacionalistas e sujeita aos bombardeamentos aéreos da Legião Condor. Ao célebre no pasarán! de Dolores IArruri, Franco acabaria por responder com um fleumático hemos passado, a 28 de março de 1939.
Já depois da transição democrática, as primeiras eleições municipais livres são ganhas em 1979 por Enrique Tierno Gálvan – socialista, professor de Direito, tradutor de Wittgenstein em castelhano e autor do preâmbulo da Constituição. É sob o seu mandato que Madrid se torna o centro da Movida, um movimento orgânico normalmente situado entre 1977 e 1985, e difusamente descrito como um misto de explosão artística e cultural, emergência de subculturas semipunk e muitíssima gente a beber no meio da rua.