Quem chega ao Cabo da Roca é informado por uma lápide de que aquele é o local geográfico mais a ocidente de Portugal e da Europa Continental.
Não sabem os turistas que a localização está envolta num misticismo que comprova a ligação do povo português ao supersticioso e à religião católica. Continue a ler e descubra e descubra a uma lenda que envolve bruxas voadoras, o rapto de uma criança e um milagre operado por Nossa Senhora.
Antes disso, falemos um pouco do Cabo da Roca. Rodeado pelo Atlântico exceto por um lado, a formação geológica é também conhecido entre os locais como “O Focinho da Roca”. Alguns preferem apelidá-la de “Promontório da Lua”, um nome mais poético, mas que se coaduna com a beleza do local.
Com inúmeros visitantes todos os anos, o Cabo da Roca já foi mencionado por Camões, em “Os Lusíadas”. Nas palavras do poeta, aquele seria o lugar “donde a Terra se acaba e o mar começa”. Atualmente, a zona faz parte do Parque Natural de Sintra-Cascais e a partir daí é possível calçar as sapatilhas e seguir os trilhos ecológicos da Serra de Sintra.
O farol pombalino que lá se encontra foi construído no século XVIII, mais ou menos na mesma altura em que se reconstruiu a Ermida de N. Sr.ª da Guia (atual Farol da Guia). Numa igreja próxima, existe um retábulo de 1858, onde se retrata o milagre lendário do Cabo da Roca. Embora haja certezas sobre a data inscrição, não se sabe ao certo qual o período em que os episódios deste post terão ocorrido.
A história é de bruxas e fala de um menino com cerca de cinco anos que desapareceu de casa sem deixar rasto. A mãe, desolada, não sabia do seu paradeiro, mas desconfiava que ele teria caído de um penhasco e que se tinha afogado. Não estava longe da verdade, mas havia contornos que ela não adivinhava.
Afinal, o miúdo não tinha caído, mas sim atirado por três bruxas que o forçaram a sair de casa. A criança não estava morta, em vez disso tinha ficado presa no fundo de um buraco. Isto até que um grupo de pastores ouviu o choro da criança e correu a avisar a mãe e as restantes pessoas da vila.
De acordo com a lenda, a tarefa de retirar o menino do buraco não foi nada fácil: “parecia sem fundo”. A muito esforço, os aldeões lá conseguiram resgatar a criança.
Já são e salvo, a mãe perguntou-lhe, ao certo, como tinha ido lá parar. O menino contou, então, que três bruxas o tinham levado pelos ares e atirado para a falésia.
Mas havia outra pergunta a fazer: como é que a criança tinha sobrevivido vários dias dentro do buraco? Quando questionado, o miúdo respondeu prontamente que havia uma senhora muito bonita que lhe tinha oferecido sopa de cravos.
A resposta deixou a mãe intrigada, mas o alívio por ter o filho de volta foi suficiente para que não fizesse mais questões. Em vez disso, foi até à igreja rezar e agradecer à Nossa Senhora. Quando lá chegou com o filho, o menino olhou para o altar e disse: “Ó mãe, ali está a senhora que todos os dias me dava as sopinhas de cravo para eu comer!”. De acordo com o retábulo, o menino chamava-se José Gomes e recebeu a alcunha de Chapinheiro (o lugar onde se chapinha).