Embora tenha uma “costela” alemã e até alguns parentes e conhecidos a morar em território germânico apenas tinha pisado solo alemão dentro do aeroporto de Frankfurt, nas muitas escalas que lá fiz.
Não foi por acaso que escolhemos Berlim. Uma cidade reconhecida pela cultura, pelo muro e sua “queda”, em 1989, a que assisti pela televisão, ainda sem perceber completamente o seu significado.
Para além disso sabia de Berlim, e da Alemanha, o que vi em filmes, como: “Asas do Desejo”, de Wim Wenders; e “Adeus Lenine!”, de Wolfgang Becker, com Daniel Brühl. Berlim tinha desde a minha meninice, e mantém, um fascínio especial. Estava em pulgas!
A entrada em Berlim, na véspera de Natal, foi um pouco atribulada. Ficará marcada por ter sido a primeira vez que à chegada ao aeroporto do destino a minha mala não veio, derivado à greve da Groudforce (serviços de assistência em terra, do ). A eficiência que esperamos de qualquer alemão aconteceu. Submeti a reclamação e a mala foi de imediato localizada em Lisboa mas, por causa da greve e dos serviços estarem a funcionar no seu mínimo por ser véspera de Natal só teria a minha mala no dia seguinte (mas não precisei sequer de me deslocar ao aeroporto: a mala foi-me trazida a casa!). Só precisei de ir comprar uma escova de dentes.
Estava frio mas não de morte, como eu esperava, friorenta como sou. Tivemos alguma dificuldade em perceber os nomes das paragens de metro através dos altifalantes mas as pessoas foram sempre simpáticas, tentando ajudar-nos. Até os mais idosos, que não dominavam o inglês, fizeram tudo para nos auxiliar.
Desde que descobri a Airbnb – através de um afável italiano que conheci numa expedição em Marrocos – não quero outra coisa. Para quem não conhece, este é um serviço online comunitário onde é possível anunciar, encontrar e reservar alojamentos. É muito fidedigno e permite que, em qualquer parte do mundo, fiquemos hospedados em casa de um “nativo”, com quarto privativo, acesso a cozinha e, habitualmente, direito a pequeno almoço.
Recomendo este serviço a todos os que gostem de viajar e mergulhar a fundo nas culturas locais. Mantém-se uma certa privacidade ao mesmo tempo que se conhecem pessoas muito acessíveis e, normalmente, disponíveis para dar algum apoio: dicas dos locais a não perder, melhores horários, sítios preferidos, partilham um pouco da sua cultura, disponibilizam-se para nos ajudar e até para repartir um jantar em família ou com amigos. Tenho tido excelentes experiências.
Ficamos num quarto no bairro boémio: KREUZBERG (imagem acima). Este bairro, que alberga muitas comunidades imigrantes e, portanto, restaurantes de quase todas as nações e imensos cafés, fica relativamente perto do centro. Andamos quase sempre a pé (quando a meteorologia o permitiu) para aproveitar ao máximo aquilo que uma cidade como Berlim nos pode oferecer.
Descobrimos uma deliciosa e surpreendente cozinha alemã e experimentamos a gastronomia típica de quase todos os países que encontramos representados. Foi no último restaurante onde fomos: Nepalês, que decidimos o destino da nossa próxima viagem de longo curso: Katmandu e vilas circundantes.
Próximo do “Checkpoint Charlie” é possível fazer uma visita gratuita ao “Topographie des Terrors” (Topografia do Terror), um centro de documentação com relevante exposição exterior e interior, erigido no local que albergava a sede da Gestapo, SS e polícia do 3º Reich;
A seguir (para afogar as mágoas) parar para comer Currywurst acompanhado por cerveja. É composto por nacos de salsicha cortada com molho de tomate e muito caril! Só se come na rua e em pé. Nascido em Berlim, simboliza, no meu ponto de vista, a multiculturalidade desta cidade, tendo incorporado os sabores trazidos pelos emigrantes;
Percorrer a beira-rio e contemplar os belíssimos e imponentes edifícios que hoje albergam inúmeros museus. No Inverno é obrigatório beber (muito) Glühwein (vinho quente com especiarias), junto a um aquecedor de rua, nos Mercados de Natal. Ao fim da tarde parar para relaxar e beber Cerveja Alemã, por exemplo, no “Pony Bar”;
Namorar nos inúmeros e lindíssimos jardins, caminhando sem destino, nomeadamente em TIERGARTEN, bebericando uma bebida quente numa esplanada. É imperdível a visita a “Deutsche Kinemathek – Museum für Film”, o magnífico Museu do Cinema;
O Mercado de SCHÖNEBERG, ao sábado, é um verdadeiro espetáculo para os gulosos. Aconselho ir com alguma fome para provar as iguarias, nomeadamente, a maravilhosa sopa de peixe da barraquinha turca;
Em PRENZELAUER BERG e FRIEDRICHSHAIN há surpresas incríveis:
É possível comer pastéis de nata quentinhos, no café de um alemão apaixonado por Portugal;
Passar uma tarde na Kulturbrauerei (antiga cervejeira) e ficar a saber mais sobre arte e história, de forma gratuita;
Ao domingo há Flea Market no Mauerpark, onde se pode ver de tudo e provar algumas iguarias, particularmente, para mim, os melhores cachorros: salsichas biológicas diversas com molhos artesanais deliciosos (também bio), a acompanhar;
Na East Side Gallery, foi mantida uma grande parte do Muro, tendo sido decorada por vários artistas internacionais;
A Berlin Burger International, em NEUKÖLLN: o bairro artístico, revelou que o hambúrguer não é necessariamente fast food.
Entramos num espaço minúsculo que oferecia apenas hambúrgueres e batatas: os melhores que já comi. A música rock chamou a atenção para este espaço que roça o estilo punk , onde se jogam videojogos a beber uma cerveja, enquanto se espera pelo pedido. Não há muitos lugares sentados mas havia uma pequena fila (porque muita gente vinha buscar comida para levar para casa!).
Eu geralmente não sou fã de hambúrgueres, nem de batatas fritas, mas este não era um hambúrguer qualquer e ainda ando a tentar fazer umas batatas com paprica assim!
Em resumo, em Berlim há de tudo. É uma cidade recheada de arte, cosmopolita e pop, em permanente atividade, com muita história e cultura. É excelente para quem gosta de caminhar, ir ao cinema, ver museus, galerias e espetáculos, ir a um bar ver boa música ao vivo, comer, ir às compras, passar uma bela tarde a beber um copo de vinho ou cerveja e a ouvir música no sofá de um confortável café, perder-se, enfim… Quero voltar.